sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Explicação para a cor do vestido

Quem conseguiu dormir, acordou logo cedo e foi conferir a cor do vestido. Recebi, agora mesmo, um comentário de um amigo que fez o caminho inverso: inicialmente, viu o vestido preto e azul, mas, agora, está vendo branco e dourado. 

Se Você resolveu ir dormir cedo, ontem, e não fez parte da multidão dos que viram cores diferentes no vestido, leia aqui pra entender!

Segundo o Blog do Pedro Burgos, no Yahoo Notícias, a postagem do BuzzFeed sobre a cor do vestido teve mais acessos em poucas horas do que um vídeo de portas dos fundos tem em um ano. É só um exemplo da viralização que ocorreu e levou até 600 mil pessoas a acessarem à postagem do BuzzFeed ao mesmo tempo. E algo parecido aconteceu, também, no Twitter, Facebook e em outras redes sociais.

Mais que tentar explicar o mistério, reconheçamos que houve um frenesi ao redor da cor do vestido e, neste caso, a paixão não foi um assunto social ou humanístico, nem mesmo uma polêmica que despertasse o ódio dos internautas;  a excitação, creio eu, nasceu da curiosidade gerada no fato de que duas pessoas olhavam a mesma imagem, na mesma tela, ao mesmo tempo e cada uma delas a via em cores diferentes. Este poder que as ilusões de ótica têm sobre nós, de surpreender e inquietar, só aumentava na medida em que cada um mostrava a imagem para as pessoas que estavam ao seu lado e tudo se repetia. Explicações mirabolantes vinham de todos os lados, mas, não era possível dar crédito a elas. Venceram as perguntas desesperadas: "Como é possível?! Alguém me explique ou não vou conseguir dormir!". E houve grande movimentação para explicar. Até neurocientistas teriam sido acordados para dar a explicação científica.


Interessante é que o frenesi em torno do assunto aconteceu ao mesmo tempo para muitas pessoas em muitos lugares diferentes e graças ao poder da internet em proporcionar tal experiência coletiva, comparada ao que acontece em finais de Copa de Mundo e outros eventos ao vivo. Assim, quem via a foto e não se conformava e a enviava aos amigos, enquanto percorria os sites que falavam sobre o assunto, buscando entender a mágica do vestido, sentia-se participante de algo grande.

Foi, realmente, grande em alcance. Que o digam o Twitter e os sites que postaram o assunto na hora em que o frenesi acontecia. A postagem de uma usuária do BuzzFeed expressa o que todos estavam sentindo, ao mesmo tempo: 

"Buzzfeed please consult an eye specialist or something and get us an answer because I don't understand how anyone is seeing it anything other than gold and white" (Martha Sorren).

 Era o que se dizia em coro, na madrugada: "Por favor, chamem um especialista!" Pelo jeito, é simples: parece que a explicação ao "fenômeno" do vestido sempre esteve na Wikipedia.

O que vemos é sempre, em certa medida, uma ilusão. A nossa imagem mental do mundo só vagamente tem por base a realidade. Porque a visão é um processo em que a informação que vem dos nossos olhos converge com a que vem das nossas memórias. Os nomes, as cores, as formas usuais e a outra informação sobre as coisas que nós vemos surgem instantaneamente nos nossos circuitos neuronais e influenciam a representação da cena.
A luminosidade influencia nossa percepção das cores!


A luminosidade é uma variável subjectiva que não corresponde de um modo preciso a uma quantidade física. É uma estimativa da reflectância real dos objectos (a proporção de luz incidente que é reflectida por uma superfície), feita pelo sistema visual.


Variável subjetiva é, para mim, o termo chave da explicação. Tudo se trata de percepção individual! Cada pessoa que olhava para a foto, interpretava a cor do vestido de acordo com a luminosidade que percebia. E foi isso o que se tornou marcante: como temos percepções diferentes e como estas percepções se encaixam em grupos específicos!

Bem, Você pode ler mais sobre a ilusão da luminosidade. Pode até entender a explicação. Mas, é certo que a sensação experimentada na madrugada prevalecerá sobre a lógica. E Você, eu e inúmeras outras pessoas nos lembraremos por muito tempo do que sentimos quando vimos em branco e dourado um vestido que a pessoa ao nosso lado via em preto e azul, marrom e lilás. verde e lilás... e que, na verdade, sempre foi preto e azul.

Jackeline Sarah
Escritora


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