quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Semente

Era uma vez uma semente, semente de fruta boa.
Tudo que ela queria era um pouquinho de terra para morrer. Parecia até gente.
Mas, ela não queria morrer atoa. Ela queria morrer para gerar vida, ela sabia que, ao morrer, outras nasceriam e isso valia a pena.
Certo dia, ela achou um pedaço de terra, pulou, adentrou, escuro tudo ficou e ela morreu. Morreu feliz.
Gerou um pequeno caule, que, em pouco tempo, foi engrossando. Começaram a surgir as folhas, a raiz ficava cada vez mais forte, cada vez mais fincada naquela terra que foi tão desejada.
A árvore cresceu muito e era a preferida dos animais. Nela havia sombra, havia flor e havia ninhos, ninho de pomba, de papagaio e de periquito. Tinha casa de joão de barro e ninho de macaco. Tinha tudo. Tinha mato.

Era uma beleza. Valeu o preço da morte da semente.
Tudo estava bem, até o dia em que se ouviu um barulho nunca antes ouvido. Era como se fosse um tucano enraivecido que não parava de gralhar.
A árvore começou a tremer, começou a doer, os papagaios e periquitos tiveram que voar, o ninho das pombinhas foi necessário abandonar, os macacos há muito estavam longe, só ficou o joão de barro que chuva não tinha imaginado. Mesmo sem entender, ficou.
E então ouviu-se voz de gente:
- MADEIRA!
Era difícil de entender. Por que o que era de cima estava caindo? Que sentimento era esse que sentiam?
Foi a última vez que o topo dos galhos viu a luz do sol por cima da mata, uma queda vertiginosa destruiu o sonho da semente, acabou-se o esplendor, acabaram-se os ninhos, acabou-se a alegria e abrigo.
Era a semente morrendo, junto com seu sonho.
Era a semente que, novamente, morria. Só que dessa vez ninguém mais viveria com a morte da semente.

Cotoxão

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