terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Bonecas infláveis

O mundo todo, certamente, sabe desta notícia há bastante tempo. Eu é que não sou afeita a programas de auditório e nem costumo acompanhar o dia-a-dia dos famosos. Desde muito cedo aprendi que "só é útil o conhecimento que nos faz melhores" (Sócrates). É verdade que deixo de saber algumas coisas, mas tem valido a pena viver assim.

Neste caso, só fiquei sabendo da notícia, porque algumas colegas comentaram, durante uma reunião. Torci para que fosse apenas boato, mas decidi procurar na internet. Encontrei e me pareceu ainda pior do que haviam comentado. Trata-se de Sheyla de Almeida Hershei, modelo brasileira, 30 anos, mãe de dois filhos e casada com um engenheiro americano. Segundo a reportagem no G1, Sheyla é a mulher que tem o maior volume de silicone implantado nos seios, na América Latina: 3,5 l em cada mama. Além das nove cirurgias para implantar as próteses de silicone nos seios, Sheyla já fez inúmeras outras, no abdômen, no bumbum (...), plásticas, lipoaspirações, chegando a totalizar mais de trinta cirurgias. Em julho deste ano, já tendo alcançado o recorde como aquela que possui as maiores próteses de silicone nos seios na América Latina e após retirar parte dos implantes para poder amamentar sua filha, Vitória, Sheyla decidiu recolocar as próteses e submeteu-se a um procedimento cirúrgico, em que implantou quase seis litros de silicone nos seios. Na ocasião da cirurgia, contraiu uma infecção que pode levá-la à morte ou, no mínimo, a precisar retirar uma mama. Talvez, esta notícia já esteja desatualizada, enquanto escrevo. Mesmo assim, os fatos não mudam. 

(Como este texto foi escrito em 2010, neste ponto, podemos tentar atualizar algumas informações, registrando que, por exemplo, Sheyla, realmente, tornou-se  a mulher com as maiores próteses de silicone do mundo, com 5,5 litros em cada mama. Após a complicação decorrente de cirurgia feita no Brasil, Sheyla teve que retirar as próteses, o que a levou à depressão e à tentativa de suicídio, tendo ficado alguns dias em coma. Na rede, podem-se encontrar depoimentos da modelo, dizendo que seu casamento está abalado, sua família está em situação financeira extremamente difícil, sua saúde comprometida, fatos que não a fizeram mudar de ideia quanto a recolocar as próteses e manter seu recorde. A última das notícias que encontramos sobre Sheyla data de março de 2012, aqui.)

Fiquei muito triste ao ler esta notícia e algumas outras sobre a modelo. Confesso que não senti empatia por ela. Não consigo me imaginar no lugar dela. Não consigo compreender o que leva uma mulher tão linda e jovem, a expor-se tanto a agressões, em nome da 'beleza', da fama e do dinheiro. Seu principal objetivo é manter-se no Livro dos Recordes. Como modelo, ganhou fama e dinheiro. Mas, Sheyla pensou ter poder, também.  Poder para modificar tanto sua natureza, seu corpo, de modo que o que considera belo, parece-me, antes, bizarro. Mas, ninguém tem tanto poder assim...

Fiquei muito triste, porque li, de passagem, alguns comentários de mulheres que a tem como ídolo, ou seja, gostariam de ser, não apenas como ela, mas de ser ela própria. Li, mais de passagem ainda, comentários de alguns homens, explicando o que fariam com ela em suas camas. Li comentários de pessoas crédulas, que estão orando para que a modelo não tenha que perder as próteses de silicone, mas possa continuar a fazer seus seios crescerem, até serem os maiores do mundo. Um bom resumo para os comentários, seria: 'se isso a faz feliz, é isso que tem que fazer'...

Fiquei muito triste, por saber que há médicos que realizam procedimentos assim. Li que muitos deles avisaram a modelo quanto aos riscos e outros se recusaram até mesmo a socorrê-la, por ocasião da infecção. Li que teve que vir fazer a última cirurgia no Brasil, pois nos Estados Unidos, onde mora com a família, ela já havia excedido os limites. Houve uma equipe de médicos brasileiros que aceitou fazer a cirurgia, mesmo havendo riscos. Não posso compreender, mas me parece que, além do dinheiro, um procedimento assim traz fama para os cirurgiões.

Fiquei muito triste, porque o tiro deles saiu pela culatra e gerou morte. A fama, agora, não é por um par de seios enormes, siliconados com sucesso. A fama dela e dos médicos é porque está doente, gravemente doente, severamente doente. Confesso que minha tristeza não é apenas pelo que ela está sofrendo, por causa da infecção. Entristeceu-me e muito, saber que ela fez escolhas erradas, desde sempre, apoiada pelo marido, pelos agentes, por alguns médicos, pela mídia, pela Livro dos Recordes, pela multidão doente, que a aclama como heroína.

Fiquei muito triste, por constatar que a humanidade, não apenas as mulheres e os médicos, não está enxergando o  verdadeiro motivo de sua existência e tem se perdido em projetos, ora fúteis, ora profundos, ora valiosos, ora inúteis, mas apenas projetos... enquanto o verdadeiro projeto a que deveria se entregar e pelo qual deveria se consumir, permanece-lhe oculto, despercebido. Se Você é uma mulher, um médico ou outro ser humano, diga-me: Você sabe que fomos criados com o objetivo claro de fazermos parte da expansão do Reino de Deus e do estabelecimento de Seu governo sobre toda a Terra? Quem se lembra disso? E, se nos lembramos ou percebemos, onde se encaixam os seios siliconados, a corrida desenfreada por poder/fama/dinheiro/prazer-a-todo-custo, neste propósito eterno de Deus? Penso que o comentário mais adequado seria: "Se dá prazer a Deus, então, faça!", "Se contribui para a expansão do Reino de Deus, então, faça!".

Ah... O que estamos fazendo com nossas filhas! O Salmo 144:12 registra uma oração, em que o Salmista pede ao Senhor que 'nossas filhas sejam como colunas esculpidas para ornar um palácio'. Nossa filhas deveriam ser consideradas lindas, exatamente, na forma em que foram feitas pelo Senhor. Deveriam enfeitar-se, perfumar-se, cuidar-se, sim, mas para valorizar o que receberam do Senhor, sabendo o tempo todo que o conceito de beleza ou feiúra varia, conforme o tempo e a cultura, sem mencionar que é algo muito subjetivo, pessoal. Elas deveriam saber que não há, realmente, um padrão. A não ser um princípio, que aparece na carta de Pedro: 'a beleza de Vocês não deve estar nos enfeites exteriores (...), mas no ser interior, que não perece, demonstrada num espírito dócil e tranquilo, que é de grande valor para Deus' (1 Pedro 3:3s). Beleza exterior sem beleza no espírito não leva a lugar nenhum. Ou melhor, leva a catástrofes e tragédias.

Se é muito importante sabermos que, para Deus, é de grande valor que o espírito da mulher esteja sendo trabalhado pelo Espírito de Jesus, a tal ponto de que dele emanem gomos do fruto do Espírito, que é Amor (Gálatas 5:22), quão valioso será atentarmos para o que está dito no texto: que a beleza do espírito não perece e que a beleza exterior perece. Esta consciência poder ser vital para nós e nossas filhas. Conheci uma mulher muito bonita, que expôs seu corpo a duas lipoaspirações, que todos ao redor julgávamos desnecessárias, em um período de tempo tão curto, que quase não sobreviveu à segunda. Foram tantos hematomas, tanta infecção, tantos remédios, tanta dor, tanto susto e, em alguns meses, todo o resultado foi perdido quando ficou grávida de seu terceiro filho. A beleza exterior perece, seja pela ação dos anos que passam, do vento ou do sol, de infecções contraídas nas próprias cirurgias plásticas, da mudança de padrão cultural ou de tantos outros agentes.

Algumas perguntas se formaram em minha mente. Talvez, Você me ajude a respondê-las. Embora não tenha sentido empatia, nem mesmo simpatia pela modelo, não consigo dizer : "Bem feito!". Ao contrário, sinto-me responsável, senão por ela, por tantas outras mulheres ao meu redor, cuja motivação é a mesma de Sheyla. Pergunto-me:

Onde estamos, mesmo, enquanto nossas meninas usam maquiagem forte, extravagante e provocante, desde a primeira infância? Quando pintam suas unhas de vermelho ou preto, aos quatro anos? Quando os lindos vestidos com babados, laços e inocência, começam a ser substituídos, já no berço, por micro blusas, mini-saias e malícia? Onde estamos quando percings e tatuagens são estrategicamente colocados para seduzir, não em mulheres que sabem o que querem fazer, mas em meninas que nem sabem quem são? É espantoso o número de adolescentes do sexo feminino que tem se submetido a cirurgias plásticas, em idades em que seus corpos ainda nem terminaram de ser formados! Pergunto: onde estamos enquanto nossas filhas são mutiladas no seu corpo, na sua alma, no seu espírito?

Não há problema algum em cuidar-se, enfeitar-se, ser ou estar bonita. Mas, há muitos problemas quando a beleza é imposta e a mulher se torna escrava dela, para obter atenção, prazer, fama, dinheiro, poder, com os bônus correspondentes de anorexia, bulimia, depressão... Estamos formando nossas meninas para serem mulheres sensuais, provocantes, independentes, competitivas. Estamos nos esquecendo de investir na formação do seu caráter.

Teremos lindas bonecas, com peitos e bumbum infláveis, mas vazias por dentro.

Não é esta a vontade de Deus. Imagine se o salmista oraria assim: 'que nossas filhas sejam como colunas enfeitadas por fora e ocas por dentro'. Penso que não, este não seria o seu desejo. Nem deveria ser o nosso, nem o de Sheyla. Este não é o desejo de Deus!
A vontade de Deus se expressa na oração do Salmista: que as nossas filhas sejam colunas esculpidas para ornar um palácio. Este palácio, acredito, é a própria construção que o Senhor fará nas nossas filhas, em Suas filhas. Terá como Pedra de Esquina o Senhor Jesus. Em algumas versões, coluna está traduzido como pedra de esquina. Na construção do que somos e seremos em Jesus, cada mulher pode ser uma pedra de esquina, parecida com Ele, gerada nEle, da mesma substância que Ele e extremamente importante para a conexão e sustentação das demais pedras vivas.

A vontade de Deus é que cada mulher seja aquilo que Ele sonhou, antes de criá-la. É que cada menina cresça em estatura e Graça diante dEle e, a cada dia, seja transformada na semelhança de Jesus, tornando-se capaz de corresponder com sua missão de trazer o Reino de Deus para a Terra, com a própria vida. Talvez, Jesus fosse bonito fisicamente. Digo talvez, porque penso que seria difícil encaixá-lO em nossos padrões culturais...  Mas, tenho certeza de que era e é lindo por dentro, no seu ser interior, no seu espírito. Esta beleza de dentro emanou dEle enquanto caminhava entre os Homens. Jesus recusou-Se a ser dominado por dinheiro, fama, poder, glória recebida de outras pessoas. Ele não quis usar anestésicos quando precisou enfrentar a dor. Mas, cultivou um espírito manso e quieto, repleto dos gomos do fruto do Espírito, que é Amor (Gálatas 5:22 - leia!). Jesus amou, foi amado, morreu e, hoje, vive.

Que a Sheyla e todas as meninas e mulheres que tem vivido como ela, colocando seus valores em tudo o que é externo e perece, e todas as demais meninas e mulheres, a começar por mim, aprendam com Jesus a amar e a serem amadas. Que, se tivermos que morrer, morramos nEle, para que a vida dEle, que não perece, viva em cada uma de nós.
Certamente, não seremos notícias, nem faremos parte do Livro dos Recordes. Mas, seremos o que fomos criadas para ser. E receberemos o reconhecimento dAquele que nos sonhou e nos ama, ainda que nossos seios sejam pequenos.
Jackeline Sarah
Escritora

Postado, originalmente, em 18-08-2010
Atualizações feitas em março/2012

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